É inverno no inferno e nevam brasas. hahahahha


sábado, 20 de agosto de 2011

O inquilino prestativo

Acho que hoje compreendi.Na verdade, os meus sábados têm sido um exercício mútuo de compreensão comigo mesma e com todos. Compreendi quando a quietação profunda perpassou por mim. Essa quietação que a mim era desconhecida, ou então, de tão agitada eu era que quando Ela vinha a chamava de Descanso em vez de paz, mas descanso também é paz, por isso, fingia para o meu Eu que ficava difícil de distinguir entre um e outro. Hoje me veio com um significado diferente, um significado do qual eu sempre tive medo;aquele significado que eu sabia, já havia perpassado por todas as pessoas mornas e tediosas. Aquelas pessoas que são como um alfinete caindo no chão: Leve,silencioso, mas de uma mágoa tão grande que quem passa, e não os vê, é ferido. O significado foi de quietação,silêncio,calmaria, do qual nunca quis procurar no dicionário  e até então era por mim desconhecido. Mas gostei, sabia que uma hora ou outra os momentos intensos parariam, e como uma terapia,todo sábado vinha se cumprir em mim,me ajudar como proceder. De início, rejeitei: ''Sai-daqui-tédio-da-zorra'' e  o máximo que consegui parar foi sentada na lanchonete da esquina.Tratando-se da terapia sinto que ja aprendi muito e Ele ja se aloja em mim, sim, o significado, a quietação. É espaçoso, já tem quarto,cozinha,banheiro e ainda está querendo a sala. Mal sabe que é inquilino e que sou eu a dona da casa.

Sépia

E pensei que talvez fosse bom viver lá em cima, talvez as coisas acima deste céu  fossem mais fáceis, mais dóceis, mais amáveis. Não necessariamente no céu mas em qualquer um destes planetas também. Tão urgente era a minha vontade de fugir da Terra que desconsiderei esse negocio de vida-oxigênio-calor e etc.  Não é simples viver embaixo deste céu. Tanto não é, que ele necessita desse mundo de gente para sustentá-lo, para povoar isso aqui que chamamos de Terra. E só de sermos chamados de terráqueos nos torna mais carnais,mais visíveis e palpáveis. Não diria inferiores porque sei que quem comanda o nosso embaixo-de-céu nunca usaria essa palavra, mas talvez só para mostrar-lhes  quanto somos pequenos diante do nível de sua Superioridade. Enquanto tentava achar um lado que me deixasse menos assustada para dormir,pensei também que esses pesadelos macabros que me atormentavam, ou eram o céu querendo falar comigo, ou o embaixo-de-céu perturbador demais para uma noite tranquila de sono. É que a minha mente é assim: Guarda tudo que vê e essa semana não foi a que teve uma das cores mais bonitas. Não foi a que teve umas das cores do céu. 

domingo, 14 de agosto de 2011

O encaixe (im)perfeito


Lendo A bela e a Fera de Clarice Lispector e uns textos de Caio Fernando Abreu me pergunto o que será isso que da aqui dentro da gente, que mexe e remexe com todos os sentimentos,emoções,batimentos cardíacos e que faz a gente sofrer? Sofrer esse que se transforma em uma necessidade de por tudo para fora de algum jeito,sofrer esse que parece tão lindo em palavras pra quem vê mas só a gente que sofre e sente pode perceber. Assim, continuo intrigada se essa aparição sua em minha vida, desse jeito, inicialmente manso, como quem nada quer e depois amoroso e esmagador é boa ou ruim. Penso sempre em todas essas pessoas que escrevem coisas tão profundas das quais eu me identifico...Teriam tido elas também um amor imenso como esse?E chego a conclusão que deviam ter sentido algo parecido com o que sinto, senão não escreveriam para, horas refugiar-se, horas emanarem essa felicidade de amor.A dúvida me cerca á todo instante, não sei se levanto as mãos pro céu e agradeço por ter acontecido comigo algo que talvez nunca tenha chegado no coração de tanta gente. Privilegiada ou condenada para sempre? Me surpreende mais ainda a forma como tudo isso acontece, ao mesmo tempo? Não sei, se não era recíproco você fingia muito bem. E é mesmo verdade que no meio de tanta chave e tanta porta você realmente encontre A chave certa que abre A porta certa,que tem o formato certo,o encaixe perfeito. Sorte? O problema é que enquanto existir a porta,existirá a chave, e somente essa a abrirá. Perder a chave não resolve, só piora a situação de uma porta que nunca mais será aberta para o mundo. Arrombar a porta também não resolve, fará da chave um objeto inútil, jamais serviria para nada a não ser abrir aquela porta,viveria jogada por aí, sem encaixe. Para talvez reverter esse quadro (quase) irreversível a mudança teria que partir de ambos: A porta e a chave. Então a chave se submeteria ao processo de ganhar um novo formato,novos dentes e, consequentemente,nova porta a ser aberta. A porta, por sua vez, ganharia uma nova fechadura e nova chave. E assim,nesse ciclo de fechar,abrir,perder a chave,mudar de apartamento,trocar a fechadura, quem sabe um dia ainda voltem a seus formatos originais e se reencontrem. A porta e a chave,condenados para sempre á distância pela discrepância do destino.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Doce veneno

A maneira que os dias se passavam minha felicidade aumentava. E eu bem sabia que era passageira. Mas, como de costume, gostamos dos piores venenos, e o de Lucas era um destes, mas com muitas contra-indicações e reações adversas. Minha felicidade era a minha própria ilusão, eu a precisava de tal forma que mastigava-a com o maior prazer, mesmo que no fim o gosto fosse amargo, afinal, acabava sempre concordando que todo amor sempre vale a pena. Para mim, não para ele. E como não piso em terrenos que não conheço, li a bula que dizia: Contra-indicado para você,que  vê em um pequeno fio de linha, a costura de um grande amor. Era eu a contra-indicada para você,meu bem? E por ser antagônica, assim, em ti eu me atirei. A partir de então, em todos os outdoors, livros,frases e sorrisos enxergava-o de tal forma que parecia ter guardado sua imagem no globo do meu olho e seguia hipnotizada. Ah, as reações adversas...Estas me causaram sensações extremas: Ou muito prazerosas ou muito dolorosas. Reclamei muito, quis me desintoxicar mas a este ponto,viciada num grande amor, não mais conseguia recusar o veneno de Lucas. Doía,mas era algo que me fazia  ir la no céu e voltar. Céu? Não. Não se pode falar de céu quando falo sobre Lucas. Mais parecido com ele seria o inferno e todas essas coisas proibidas que me fascinavam. Assim me tornei escrava, era ele quem me dava comida, que ditava os horários e eu o seguia sem mais. Afinal, quem é que quer parar de beber a água do poço que dá vida?